Sunday, January 28, 2007

Primeira pessoa


Cheguei em tempo de poder ver as 2500 fotos da mãe de Emil Forman. Não esperem que a um convite para olhar suas fotos de família ou os registros de suas férias eu atenda por qualquer outro motivo que não seja a educação. Mas, estas fotos, desta mãe, de quem nem mesmo o nome eu sei, me fascinaram.

Não, não era a “arte fotográfica”. De um tempo em que o maneirismo ainda não havia tomado conta da fotografia amadora e que a vida humana ainda não se espelhava nas imagens futuras que a camêra lhes dedicaria, estas fotos realizadas entre as décadas de 40 e 60 são absolutamente banais.

Uma vida registrada no correr da malha de seu cotidiano.

E eis que uma mágica acontece: eu me vejo indo e voltando entre uma foto e outra; buscando, nos acontecimentos menores de uma vida, nos rostos e lugares, a cada foto mais familiares, os indícios da passagem do tempo, os fios invisíveis que ligariam um momento ao outro.
Eu traço linhas imaginárias entre instantes registrados; eu quero saber como aquela que foi se tornara aquela que é e, o quê daquela que é levaria àquela que seria. Eu brinco de adivinhar o futuro.

Ainda no meio da instalação eu escuto, ao meu lado, alguém a perguntar: mas será que ela não se casou? Eu me perguntava a mesma coisa: desta vida guardada em todas as suas insignificâncias, eu queria o casamento - esta data por todos registrada. Eu queria, principalmente, o fio que ligasse aquela mulher àquele artista que a ela me apresentava. E eis que eu vejo: A noiva, as crianças, a vida familiar. Lamento o tempo passado, lamento o que foi e não mais será, mas respiro, aliviada, por finalmente encontrar, na foto de Forman bebê, o momento em que o hoje se aninhava ao ontem.

Nesta foto eu paro e, por um instante, me emociono imaginando que com aquele bebê – hoje, já morto – era o presente do meu olhar o que também nascia.

Está tudo lá: a relíquia, a memória, e A mãe (dizem que, o único lugar onde temos certeza de, um dia, já termos estado).

6 Comments:

Anonymous Anonymous said...

eu, que não tenho chegado a tempo de ver muita coisa, adoro chegar aqui e ter você escrevendo essas imagens.
1 beijo
Bárbara

2:52 PM  
Blogger sam said...

Nhé.. cada imagem é um momento.. capite.. mas não fique tentando achar conexão entre as fotos, don´ worth..... a não se for só por bobeira..
Mas agora tah mais facil de filmar do que d tirar fotos.. pra ver tah tão fácil como. depois dum weblog.. dum fotolog... o youtube num passa de um videolog... =)

faça os seus =)

8:35 PM  
Anonymous Anonymous said...

coisa mais bonita, pat... me chama quando vc chegar. muita saudade. beijo.

5:02 PM  
Blogger sam said...

Fala desse tipo de foto.. familiar.. casual... com um presusposto estabelecido...
Crie situações do nada... ações e não imagens... Um dia vou gravar um video de algo que tow te dizendo que imagens em movimento vão substituir fotografias...

3:00 PM  
Blogger sam said...

crie uma situação do nada... das pessoas em volta de ti..

3:00 PM  
Blogger pat m. said...

sam, não sei se te entendo como deveria (e tendo a resistir um pouco, principalmente quando leio que imagens em movimento substituirão a fotografi. nunca vi, nem nunca soube de um meio substituir outro).
mas quando fizer este video, espero poder assisti-lo.

6:01 PM  

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